Uma eleição muito engraçada

Por PEDRO PAULO REZENDE

A próxima disputa eleitoral dos Estados Unidos promete grandes emoções para os jornais sensacionalistas. Se as primárias seguirem seu curso natural, teremos dois candidatos respondendo processos na Justiça. Será uma guerra de foice no escuro. A oposição, representada pelo Partido Republicano, não cansa de apresentar denúncias contra Hunter Biden, filho do atual presidente norte-americano, Joe Biden, que concorre à reeleição. Há provas robustas que envolvem os interesses da família com negócios escusos na Ucrânia. Os parlamentares do Partido Democrata (da situação), por sua vez, terão munição farta contra Donald Trump, que durante sua passagem pela Casa Branca tentou reverter os resultados da eleição por meio de um golpe e tem alta probabilidade de ser condenado por surrupiar documentos secretos do governo estadunidense. O jogo será sujo e a troca de acusações já começou.

As ligações perigosas da família Biden com a oligarquia ucraniana foram forjadas durante a passagem do atual chefe de estado estadunidense pela vice-presidência dos Estados Unidos durante o governo de Barack Obama. Ele trabalhou de maneira pouco republicana para inserir Hunter, usuário de drogas pesadas, como maior representante do lobby norte-americano em Kyiv. O herdeiro da família Biden chegou a ocupar um cargo no conselho da Burisma, uma das maiores companhias de gás natural do país. Pouco depois, a Procuradoria Geral do país começou a investigar acusações de corrupção envolvendo a empresa.

A nomeação de Hunter, que continuou na Burisma até abril de 2019, gerou polêmica e foi usada pelo ex-presidente Donald Trump para pressionar o candidato Joe Biden durante a última campanha presidencial. O próprio Hunter Biden afirmou que, apesar de não ter feito nada de incorreto, seu trabalho na Ucrânia foi “um erro de avaliação”.

O interesse pessoal de Biden, desde que assumiu a Casa Branca, levou os Estados Unidos a pressionarem a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) a ampliar a presença no Mar Negro. Seus navios passaram a desafiar o mar territorial da Rússia, sob o pretexto de que não reconhecem a soberania de Moscou sobre a Crimeia. A escalada terminou com o conflito entre Moscou e Kyiv, depois que o presidente da Federação Russa declarou esgotadas as possibilidades de negociação.

Sonegador

Para evitar acusações de corrupção, Hunter Biden utilizou uma manobra bastante empregada nos Estados Unidos: aceitou a culpa por um crime menor, sonegação de impostos, em troca do arquivamento dos outros processos. Ele também assumiu uma declaração falsa que firmou ao adquirir uma pistola. Pela legislação norte-americana, viciados e ex-dependentes de drogas não podem adquirir armas de fogo e ele omitiu este fato ao preencher o formulário.

O esquema básico é o seguinte: Hunter Biden, enquanto estava no auge de um vício em drogas que acabou com sua família, ganhou milhões de dólares com empresas estrangeiras porque seu sobrenome é Biden. Embora o enredo básico não tenha mudado, há uma série crescente de revelações, investigações e problemas legais enfrentados pelo filho do presidente e causando sofrimento ao presidente enquanto ele tenta convencer os americanos de que merece mais quatro anos no poder.

A certeza de impunidade de Hunter foi tamanha que ele chegou a perdeu um laptop que mantinha todos os registros de suas operações de lobby e milhares de fotos comprometedoras que mostram seu envolvimento com adolescentes, prostitutas e traficantes. Até o momento, os indícios de atividades pouco republicanas da família se limitam ao filho do presidente, mas há riscos sérios de que possam atingir o pai. Uma denúncia feita por um ex-executivo da Burisma ao Bureau Federal de Investigações (FBI) foi o primeiro passo neste sentido.

O senador republicano por Iowa Chuck Grassley luta para revelar o conteúdo completo do documento, entregue ao Congresso com vários trechos censurados. O empresário ucraniano, não identificado, afirmou que mantém 17 gravações de áudio de suas conversas com Joe e Hunter Biden como uma “apólice de seguro”.

Segundo informações ainda não oficiais, a Burisma pagou US$ 10 milhões ao atual presidente norte-americano antes de aceitar Hunter no conselho. O depoimento, datado de 30 de junho de 2020, detalha reuniões e conversas mantidos entre a empresa ucraniana ao longo de vários anos, começando em 2015.

Grassley, do plenário do Senado, criticou o FBI por não cumprir a intimação do Comitê de Supervisão da Câmara, dizendo que o Congresso  ainda carece de um quadro completo e completo com relação ao que esse documento realmente diz.

— É por isso que é importante que o documento seja tornado público sem censuras para fins de transparência — afirmou.

O empresário ucraniano ainda afirmou que representantes da família Biden ofereceram US$ 10 milhões por seu silêncio.

Baton na cueca

Até o momento, nenhuma investigação provou a ligação direta de Joe Biden com os negócios escusos do filho, mas a oposição republicana acha que é apenas questão de tempo que as provas sejam obtidas. O atual presidente está longe de ser unanimidade dentro do seu partido. Ele apresenta sinais de senilidade, como esquecimentos e quedas em lugares sem obstáculos ou na escada do Air Force One, o Boeing 747 presidencial.

Outras ações criminosas dos Biden incluem o financiamento direto em laboratórios espalhados pelo território ucraniano que desenvolviam patógenos para uso em armas biológicas de destruição em massa. Documentos apresentados pela repórter Dilyana Gaytandzhieva provam a participação de Hunter no conselho executivo destas empresas.

Para piorar a situação dos dois favoritos, a Justiça Federal ampliou o processo contra Trump com mais três indiciamentos contra ele em função dos documentos secretos encontrados em na mansão do bilionário em Mar-a-Lago. As acusações incluem destruição de provas e traição por partilhar informações militares secretas com pessoas não qualificadas. Biden também sofreu um golpe ao descobrirem cocaína em uma armário destinado à guarda de objetos de visitantes da Casa Branca.

A verdade é que o quadro atual da eleição americana não é auspicioso. Os dois favoritos estão envolvidos em atividades suspeitas, um mau sinal para a única superpotência global. Os maiores concorrentes também são controversos. Pelo lado democrata, o senador Robert Kennedy Jr. é um negacionista adepto de teorias da conspiração que lutou contra a vacinação obrigatória durante a pandemia de COVID 19. A alternativa republicana é o governador da Flórida, Ron DeSantis, que, além de acabar com todos os projetos de ação afirmativa nas universidades públicas, promulgou uma mudança programática no currículo das escolas do estado com uma versão rósea da escravidão. Segundo a nova ementa, “os escravos ganharam competências durante o trabalho nas plantações”…

Em suma, teremos uma eleição muito engraçada.