O risco de uma nova pandemia é iminente

Por Pedro Paulo Rezende

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou para o avanço de epidemias rumo ao território dos Estados Unidos e da Europa. Duas doenças atraem a atenção das autoridades sanitárias: a dengue, que já extrapola os limites da América do Norte e do norte da África, e o MPOX (antes conhecida como varíola do macaco) que apresenta cepas mais perigosas e segue seu caminho rumo à Ásia e na América do Sul. Com a pandemia do vírus COVID 19, a comunidade internacional aprendeu, a duras penas, a necessidade de cooperação internacional para superar a ameaça de novas enfermidades.

No caso da dengue, não se pode dissociar o ritmo de contaminação com a questão do aquecimento global. Reportagem do portal Vox sobre o tema diz que “a velocidade sem precedentes do avanço da dengue no mundo é um exemplo preocupante de como as mudanças climáticas e as tendências demográficas do século 21 podem rapidamente transformar um problema de saúde pública numa assustadora crise de saúde global.”

Reportagem do Washington Post afirma que o aprofundamento da crise de saúde pública, segundo os epidemiologistas, serve de alerta para o mundo. A dengue está, ao mesmo tempo, chegando a lugares onde nunca esteve e, onde está presente há muito tempo, o número de casos subiu a níveis inéditos. O mosquito Aedes aegypti já chegou a Malta e ameaça grande parte do sul da Europa e no sul dos Estados Unidos.

No ano passado, a Califórnia e a Flórida descobriram suas primeiras transmissões locais de dengue. Nos últimos anos, pela primeira vez, foram notificados casos na França, Croácia, partes subtropicais de África e Afeganistão.

Em relação a MPOX, a OMS classificou a doença como emergência de saúde pública global. É o nível de alerta mais alto da agência da ONU, que recomendou aos países monitorar infecções e adotar ações para conter a circulação do vírus. Neste ano, 14 mil casos globais de MPOX foram identificados. Uma nova cepa causou 524 mortes.

De acordo com a organização, surtos da doença vêm sendo reportados na República Democrática do Congo há mais de uma década e as infecções têm aumentado de forma sustentada ao longo dos últimos anos. Em 2024, os casos já superam o total registrado ao longo de todo o ano de 2023.

Causada pelo vírus Monkeypox, a doença pode se espalhar entre pessoas e, ocasionalmente, do ambiente para pessoas, através de objetos e superfícies que foram tocados por um paciente infectado. Em regiões onde o vírus está presente entre animais selvagens, a doença também pode ser transmitida para humanos que tenham contato com os animais infectados.

O sintoma mais comum da doença é a erupção na pele, semelhante a bolhas ou feridas, que pode durar de duas a quatro semanas. O quadro pode começar com ou ser seguido de febre, dor de cabeça, dores musculares, dores nas costas, apatia e gânglios inchados. A erupção cutânea pode afetar o rosto, as palmas das mãos, as solas dos pés, a virilha, as regiões genitais e/ou anal.

As lesões também podem ser encontradas na boca, na garganta, no ânus, no reto, na vagina ou nos olhos. O número de feridas pode variar de uma a milhares. Algumas pessoas desenvolvem ainda inflamação no reto, que pode causar dor intensa, além de inflamação dos órgãos genitais, provocando dificuldade para urinar.

Armas biológicas

A repórter investigativa búlgara Dilyana Gaytandzhieva revelou, no início da intervenção russa em Donbass, que o governo dos Estados Unidos mantinha convênio com 26 centros de pesquisa ucranianos que tinham como objetivo a produção de armas biológicas. Ela usou como fonte a página da embaixada americana em Kyiv para embasar seu material. Estes registros não foram apagados imediatamente e podiam ser consultados na primeira semana do conflito antes de serem apagados.

Apesar disto, a reportagem foi alvo de ataques por todas as agências noticiosas e meios de comunicação de massa ocidentais. A jornalista chegou a ser classificada como “agente a serviço da República Popular da China” antes de Victoria Nuland, subsecretária de Estado norte-americana, confirmar a informação em um comitê do Congresso dos Estados Unidos.

Armas biológicas são empregadas pelos Estados Unidos desde meados do século 19 com a Marcha para o Oeste. Cobertores infectados com o vírus da varíola foram entregues a tribos indígenas derrotadas para disseminar a doença. A operação determinada pelo Exército foi disfarçada como uma ação de caridade promovida por igrejas protestantes. A partir da década de 1930, todas as grandes potências militares realizaram pesquisas na área, mas apenas o Império do Japão decidiu empregá-las na prática.

Perdão a um genocida

A partir de 1936 e durante toda a Segunda Guerra Mundial a Unidade de Prevenção de Epidemias e Purificação de Água, conhecida como Unidade 731, contaminou a população civil chinesa com varíola, peste bubônica, antraz, botulismo e novas cepas de patógenos. A pesquisa foi autorizada pelo imperador Hiroito a partir da proposta de um médico militar, o tenente-coronel Shiro Ishii. O centro que ele montou nas imediações de Harbin, na Manchúria, possuía 3 mil pesquisadores que usavam cobaias humanas nos experimentos, independente de sexo ou idade.

O teor dos trabalhos — que incluía vivisseções — superava em crueldade o executado pelo médico nazista Joseph Mengele no campo de Auschwitz (Leia mais aqui). Graças a seus esforços, Shiro Ishii foi promovido pelo imperador Hiroito a major-general, em 1940, e a tenente-general, em 1945.

Com a rendição do Japão, em 2 de setembro de 1945, a União Soviética e a República da China solicitaram a abertura de um processo por crimes de guerra contra todos os integrantes da Unidade 731, mas o pedido foi recusado pelos Estados Unidos a partir de uma recomendação do general Douglas Mac Arthur, nomeado governador-geral do Japão. Em lugar das barras do tribunal e uma provável sentença de morte, Shiro Ishii foi transferido para Fort Dietrick onde comandou um laboratório de pesquisas e deu aulas sobre guerra biológica. Em 1956, retornou ao Japão e abriu uma clínica gratuita. Morreu em 1959, em decorrência de um câncer de garganta.

Problemas com o Brasil

O interesse norte-americano por patógenos de alta periculosidade chegou a causar um incidente com o Brasil. Em 2011, um pelotão de fronteira foi gravemente afetado por uma variação desconhecida do vibrião colérico que atingiu sete militares, três deles com resultados fatais. A missão de resgate foi heroica. Um helicóptero HM-3 Cougar do Exército executou uma missão de voo visual com equipamento de visão noturna. A bordo levava um tanque de combustível inflável cheio e uma equipe médica.

Ao chegar ao pelotão de fronteira, usaram o combustível suplementar para reabastecer manualmente o helicóptero, carregaram os corpos e os militares doentes e retornaram para Manaus. O patógeno foi isolado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Como não temos laboratórios de contenção de nível 4, onde o espécime é guardado em vácuo e o manuseio se faz por trajes especiais, o organismo foi enviado para o Centro de Controle e Prevenção de Doenças de Atlanta, mantido pela Guarda Costeira no estado norte-americano da Geórgia.

O pesquisador brasileiro que isolou o patógeno chegou, dias depois, a Atlanta e foi impedido de entrar no prédio. O comandante da unidade recebeu-o na portaria e o alertou de que o espécime, agora, era propriedade do Departamento de Defesa dos Estados Unidos. O Itamaraty foi acionado, emitiu um protesto junto ao Departamento de Estado norte-americano e, depois de seis meses, a equipe brasileira pode acessar o organismo e participar da pesquisa.

Hoje, os Estados Unidos empregam inteligência artificial no desenvolvimento de novos patógenos, o que implica em riscos cada vez maiores de pandemias. Com a mudança das condições climáticas, o risco da velocidade de contaminação aumentou. Além de doenças tropicais, patógenos dormentes no permafrost (solo congelado por milênios) tornaram-se um risco para a população de países desenvolvidos. O que antes era um risco localizado transformou-se em um risco global. É necessário que a cooperação internacional encontre curas e vacinas para preservar a humanidade.