Por PEDRO PAULO REZENDE
A passagem de Luis Almagro pela Secretaria-Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) será lembrada por escândalos. Ele marcou sua gestão, iniciada em 2015, por ações polêmicas e sempre favoráveis aos interesses do governo dos Estados Unidos da América. Entre outras decisões, partiu dele a decisão de retardar o anúncio da comissão de observadores eleitorais da entidade que fiscalizou o pleito presidencial boliviano de 2019, o que foi usado pela oposição como justificativa para a derrubada de Evo Morales. Depois do golpe e da ascensão da senadora Jeanine Áñez, que se autoproclamou presidente, o documento da OEA declarou que o pleito fora limpo e o resultado, que garantia a reeleição do mandatário, justo.
Há outras decisões extremamente questionáveis. Almagro, ex-ministro das Relações Exteriores do Uruguai, usou a OEA para efetivar o bloqueio econômico contra a Venezuela e a legitimação do governo autônomo de Juan Guaidó; ele também apoiou a repressão dos protestos sociais no Chile, na Colômbia e no Peru e comandou a guerra legal e a perseguição judicial contra o ex-presidente do Equador Rafael Correa.
Coube a Almagro, nos seus primeiros cinco anos de mandato, promover uma caça às bruxas na OEA, com a substituição de todos os cargos de chefia ocupados por progressistas.
Apesar disto, o secretário-geral da OEA quase perdeu o cargo por uma questão trivial: ele promoveu uma assessora, 20 anos mais jovem, depois que começaram um caso amoroso. Marián Vidaurri, é uma acadêmica mexicana com estudos em nível de doutorado na Escola de Estudos Internacionais Avançados John Hopkins. Ela é professora da Escola Centro-americana de Governo e Democracia e também ocupou o cargo de chefe de Análises Políticas na OEA.
O processo legal para mudar o comando da OEA começou em 2 de junho de 2022, quando a organização recebeu uma denúncia anônima por correio eletrônico. Um dia depois, o próprio Luis Almagro enviou uma nota ao Inspetor Geral pedindo que abrisse uma investigação. No dia 7 de outubro, a agência Associated Press publicou uma notícia que referia ao caso e que incluía detalhes.
Em 11 de novembro de 2022, o Conselho Permanente da OEA aprovou, por meio de uma resolução, a abertura de uma investigação por uma empresa externa para determinar se seu secretário-geral a violara o Código de Ética e outras normativas da entidade. Para agravar a situação, sua ex-mulher agrediu e despediu uma empregada doméstica que trabalhava na residência oficial da organização em Washington.
Seus atos foram investigados pelo escritório Miller & Chevalier Chartered, de Nova York, contratado pelo Conselho Permanente da entidade. A entrega do documento foi postergada duas vezes. Ao final, em abril, a firma entendeu que não houve abuso, apesar de constatar que Almagro e Vidaurri chegaram a viajar juntos dez vezes por conta da OEA.
Livro
O Centro Estratégico Latino-americano de Geopolítica (CELAG) e o Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (CLACSO) publicaram La OEA em tempos de Almagro, um livro no qual se faz uma revisão exaustiva do mandato do político uruguaio diante da instituição interamericana, com um análise crítica de sua gestão e sua posição diante dos principais acontecimentos que aconteceram na região desde 2015, quando assumiu o cargo.
O livro foi coordenado pela doutora em Ciência Política e integrante do Conselho Executivo do CELAG, Silvina Maria Romano. Participaram do esforço, além da própria Silvina, os pesquisadores do CELAG e CLACSO Tamara Lajtman, Aníbal García Fernández, Marcelo A. Maisonnave, Adoración Guamán, Javier Calderón, Carola Íñiguez e Charlotte Back. Segundo a organizadora da obra, o trabalhoanalisa “uma gestão caracterizada pelo personalismo e pela defesa do status quo em lugar da defesa da democracia.”
O prólogo coube ao ex-presidente da Colômbia, Ernesto Samper, um dos fundadores do Grupo de Puebla. Em seu texto, ele defende a saída do atual secretário-geral da OEA uma vez que sua atuação atacou os princípios da Carta de Fundação da organização. O livro é gratuito e pode ser obtido aqui.

