Alexey Navalny, racista ou patriota?

No mesmo dia em que ocorreram os primeiros ataques contra milícias xiitas ordenados por Biden (leia mais aqui), a Anistia Internacional retirou o status de prisioneiro de consciência de Alexey Navalny, opositor do presidente da Federação Russa, Vladimir Putin. A organização levou em conta comentários anteriores que ele fez contra imigrantes de antigas repúblicas soviéticas do Cáucaso e da Ásia Central e por participar de uma marcha anual da extrema direita nacionalista russa. Em um vídeo de 2007, ele pediu a deportação de imigrantes para, segundo disse, evitar o aumento da violência de extrema direita.

— Temos o direito de ser russos na Rússia. E vamos defender esse direito — disse ele no vídeo.

Graças aos interesses comuns com Washington, Alexey Navalny se transformou no queridinho da América. Apesar de sucessivas condenações, a primeira delas por corrupção, suas contínuas críticas ao presidente da Rússia conseguiram capitalizar a atenção ocidental. Sua importância real é muito menor que a estimada na Europa e nos Estados Unidos. Em média, suas manifestações públicas atraem cerca de 10 mil apoiadores em Moscou.

Navalny era ligado ao grupo de Bóris Ieltsin, primeiro presidente da Federação Russa que marcou sua passagem no governo por sucessivos casos de embriagues em público e pelo envolvimento em enriquecimento ilícito. Depois, passou para a oposição comandada pelo ultranacionalista Vladimir Jirinovski. Graças aos seus contatos políticos, assumiu um cargo de consultoria junto ao governo regional de Kirov. Nesta função, em 2009, ele coordenou um esquema de desvio de 10 mil metros cúbicos de madeira com os diretores das empresas Companhia de Floresta de Vyatka Forest e da Madeireira Estatal Kirovles. Julgado pelo juiz Sergei Blinov, do Distrito de Leninsky em Kirov, em 2012, ele foi condenado junto com os presidentes das duas empresas, Pyotr Ofitserov e Vyacheslav Opalev.

A condenação, apesar de suspensa, custou caro para Navalny: ele foi impedido de concorrer à prefeitura de Moscou, mas o oposicionista soube capitalizar a punição ao se apresentar como um candidato antissistema que lutava contra a corrupção instalada no Kremlin. Suas acusações nunca apresentaram provas, mas atraíram financiamento ocidental, apesar do discurso racista e ultranacionalista finalmente reconhecido pela Anistia Internacional.

O Parlamento europeu, localizado em Estrasburgo (França), questionou a condenação. A partir deste momento, Navalny transformou-se em um especialista em plantar factoides pelo Facebook. No ano passado, ele apresentou sintomas de intoxicação durante uma viagem aérea entre Tomsk, capital da Sibéria, e Moscou. O avião precisou fazer um pouso de emergência na cidade de Omsk. Dois dias depois autoridades russas foram convencidas a permitir que ele fosse levado para a Alemanha.

As autoridades alemãs alegaram que o político russo foi envenenado pelo agente químico Novichok. Trata-se de uma substância que ataca o sistema nervoso e que pode eliminar a vítima em apenas 10 minutos. Navalny, no entanto, conseguiu suportar duas horas de voo, o que torna a acusação inconsistente. Ele retornou a Moscou depois do tratamento médico em Berlim e foi detido para cumprir pena por decisão judicial. (PPR)