A mídia e os Jogos do BRICS

Por Pedro Paulo Rezende

Os Jogos do BRICS ocorrem desde 2016 e não foram concebidos para competir com as Olimpíadas. Fazem parte de uma lista de eventos esportivos alternativos, a exemplo dos Jogos Mundiais, que incluem práticas fora das correntes principais. É uma oportunidade para divulgar os atletas, amadores e profissionais, do breakdance; do xadrez; do wushu (conhecido popularmente como kung fu); do sambo (arte marcial russa); da dança do dragão e do leão; da corrida de barcos dragões; da yoga e do jiu-jitsu brasileiro.

Na última edição, promovida, no ano passado, pelo Ministério dos Esportes da República Popular da China, as competições foram disputadas em ambiente virtual por causa das limitações autoimpostas por Beijing em busca do controle total do vírus da COVID 19. As apresentações eram enviadas por vídeos para os juízes por meio da internet. Mesmo assim, participaram atletas dos cinco países do bloco, se distribuíram 42 medalhas e 500 mil pessoas assistiram online.

Apesar disto, agências noticiosas internacionais, como a EFE espanhola, fizeram questão de classificar como “um desafio à autoridade olímpica internacional” a decisão do ministro do Esporte da Rússia, Oleg Matytsin, de promover, no próximo ano, mais uma edição dos Jogos do BRICS. As competições ocorrerão entre os dias 12 e 23 de junho na cidade histórica de Kazan e incluirão 25 esportes — nenhum deles previsto na programação das Olimpíadas de Paris, que começam em 26 de julho e terminam em 11 de agosto de 2024.

A Federação Russa, no momento, está impedida de participar dos Jogos Olímpicos em função de sanções em função da guerra na Ucrânia. A punição também foi estendida a Belarus. Anteriormente, a partir de denúncias do médico Grigory Rodchenkov, ex-diretor do laboratório antidoping russo, o país sofreu várias suspensões sucessivas por burlar as normas antidoping internacionais.

Ele afirmou ter dopado dezenas de atletas, inclusive 15 medalhistas, na preparação para os Jogos de Inverno de Sochi; na Olimpíada de 2012, em Londres; durante o Campeonato Mundial de Atletismo em Moscou, em 2013, e no Campeonato Mundial de Natação de Kazan, em 2015. De lá para cá, Rodchenkov entrou no programa de proteção de testemunhas do Escritório Federal de Investigações (FBI na sigla em inglês) dos Estados Unidos, mudou de nome e vive escondido em território americano vivendo confortavelmente com os direitos autorais de sua história exposta em livros e em filmes.

O governo russo negou as acusações que englobam adulterar e destruir amostras de sangue e de urina de atletas que participaram dos jogos olímpicos. Em verdade, as provas apresentadas pela Agência Mundial Antidoping (WADA na sigla em inglês) foram tênues e as investigações foram claramente enviesadas alegando que agentes do FSB (equivalente ao FBI americano) invadiram o prédio da Agência Antidoping Russa (RUSADA na sigla em inglês) para trocar exemplares comprometedores.

Os ataques dirigidos aos Jogos dos BRICS pela imprensa internacional escrevem apenas mais um capítulo na histeria antirrussa patrocinada pelos governos europeus e pelo Departamento de Estado norte-americano. Este processo se inicia com os episódios da Praça Maidan, claramente incentivados por diplomatas estadunidenses, como Victoria Nuland, e se agravaram durante os oito anos do conflito em Donbass e a partir da intervenção russa iniciada em fevereiro de 2022. Um bom exemplo está nos ataques cometidos pela artilharia ucraniana contra a Usina Nuclear de Zaporizhzhia testemunhados pelo diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica, embaixador Rafael Mariano Grossi, durante uma visita de inspeção. Apesar disto, ele responsabilizou as autoridades russas em seu relatório (leia mais aqui).

Foto de Liang Xu, agência Xinhua