Lawfare

Relações perigosas

Por PEDRO PAULO REZENDE

A iniciativa do Departamento de Justiça dos Estados Unidos de intimar a subsidiária norte-americana da SAAB para fornecer informações sobre a Concorrência F-X2 lança suspeita sobre a licitação, encerrada em 2014 e ganha pelo F-39 Gripen. O certame dirigido pela Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate (COPAC), do Comando da Aeronáutica, visava a aquisição de 36 caças para a Força Aérea Brasileira. A ideia original, previa a aquisição de lotes subsequentes até um total final de 108 aeronaves, mas, até hoje, apenas nove foram entregues.

A verdade é que a FAB comprou uma ideia ao escolher o F-39 Gripen E. Não havia como avaliá-lo em voo, uma vez que não existia nenhum protótipo quando a SAAB venceu a concorrência (o rollout do novo avião ocorreu em 18 de maio de 2016). Foi uma das razões da empresa sueca perder certames importantes, como a da Força Aérea Indiana que exigia que o candidato fosse testado em território indiano. Para complicar, não era uma simples modernização do Gripen original, que voou em 1988 e chegou a ter mais de 250 unidades fabricadas em quatro versões. Era uma aeronave nova com menos de 9% de partes comuns com sua antecessora.

A verdade é que o programa F-X2 segue com sérios problemas técnicos, por parte da Suécia, e financeiros, por parte do Brasil. O radar Leonardo ES-5 RAVEN desenvolvido especialmente na Escócia apresenta bom resultado em bancada, mas mostra uma tendência a superaquecimento em voo (apesar da refrigeração a líquido) no Gripen E. Uma reunião entre as partes ocorreu entre os dias 20 e 24 de julho em paralelo ao Show Aéreo de Farnborough com uma novidade: além dos representantes da COPAC, um observador do Ministério da Defesa participou do encontro patrocinado pela Leonardo.

Na ocasião foram apresentados resultados de seis meses de testes do RAVEN ao ar livre na base de Pratica di Mare, onde se concentram os voos experimentais da Aeronáutica italiana. Protegido das intempéries por uma cúpula, o equipamento não mostrou sinais de superaquecimento mesmo durante o verão mediterrâneo, quando temperaturas superiores a 30° centígrados são comuns. O problema é que o sistema da SAAB no avião não entrega a refrigeração necessária e não há espaço interno para ampliá-lo.

Hoje, a proteção do espaço aéreo nacional depende de dezesseis caças F-5EM Tiger II e dois EMBRAER A-1 (também conhecido como AMX). Em teoria, poderíamos somar oito dos nove caças SAAB F-39 Gripen E (um serve como célula de testes em Gavião Peixoto), mas eles só estarão aptos a disparar mísseis ar-ar no próximo ano. Estes números explicam a razão do comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno, buscar um novo aparelho capaz de dar um mínimo de operacionalidade às unidades de combate.

No próximo ano, os EMBRAER A-1 sairão de serviço e a FAB perderá sua capacidade de ataque. Em teoria, os Gripen E assumirão esta missão no futuro, mas o processo de homologação da célula para a função deve demorar no mínimo cinco anos. Em função deste quadro, causado pelas administrações anteriores, Damasceno saiu em campo em busca de uma solução emergencial, capaz de ser implantada em até dois anos. (Leia mais aqui)

1 comentário

  1. Incrível como aviões de combate russos são desconsiderados de qualquer compra da FAB. A velha história do ‘problema de manutenção’ dos caças russos é uma grande farsa, o problema mesmo é nossa total falt ade soberania e visão de longo prazo.

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