Por PEDRO PAULO REZENDE
A unidade latino-americana está, mais uma vez, sob ataque. A ausência do presidente Javier Milei e a participação da delegação argentina, chefiada pela chanceler Diana Mondino, na reunião de cúpula do MERCOSUL, realizada em Assunção (Paraguai), deixaram claro que paira uma ameaça contra o bloco. Como ponto positivo, o bloco recebeu a adesão da Bolívia e todos os integrantes do encontro, inclusive a Argentina, manifestaram seu apoio à democracia.
Milei critica Lula desde a campanha eleitoral argentina, mas sabe que o país depende do MERCOSUL. Por isto não coloca em prática suas propostas de se afastar do bloco. Desde o início do seu governo, seu único número favorável na economia é o superávit fiscal, no entanto, com sua política liberal radical, empurrou 60% da população para abaixo da linha de pobreza. A inflação mensal está em torno de 4,5% chegando a 4,7% em junho. A recessão pode atingir 13% do produto interno bruto até o fim do ano.
É interessante observar como a fúria de Milei atingirá a representação do seu país no Parlamento do MERCOSUL (PARLASUL). A deputada Fabiana Martín — ligada ao mandatário argentino (Partido Unión Celeste Y Blanco) — preside o organismo, que estabelece pautas comuns que orientam a ação conjunta do bloco nas áreas diplomáticas, de comércio exterior e social. A primeira tentativa não deu certo. O grupo aprovou uma moção contra Israel, apesar do esforço dela para bloqueá-la.
A unidade latino-americana sempre foi sabotada por suas elites. A União de Nações Sul-Americanas (UNASUL) é o maior exemplo disto. Hoje, a UNASUL encontra-se paralisada, sem presidente ou secretário-geral. Ao assumir a chefia de Estado do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva propôs o reerguimento do bloco. Ele procurava restabelecer a cooperação em áreas como saúde, mudança do clima, defesa, combate aos ilícitos transnacionais, infraestrutura e energia.
Em verdade, a tentativa de reconstruir a UNASUL está fadada ao fracasso. A maré conservadora conseguiu destruir a confiança dos países do subcontinente em mecanismos coletivos de defesa e de cooperação. A Unasul não foi a única ocasião perdida. O Parlamento Latino-americano e do Caribe (Parlatino) mostra como boas ideias perdem-se ao longo do tempo. Criado em 1964, a partir de uma proposta do deputado brasileiro Nelson Carneiro (eleito pelo extinto estado da Guanabara), o grupo existiu de forma não institucional até 1986. Nesta fase, foi importante para a defesa dos direitos humanos e como ferramenta de resistência contra os regimes autoritários impostos à região por meio de golpes militares. Infelizmente, à medida em que se formalizou, perdeu impacto. (Leia mais aqui)
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