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Terror terceirizado

Por PEDRO PAULO REZENDE

A ação terrorista contra o Crocus City Hall, cometida na noite de sexta-feira (dia 22 de março) na cidade de Krasnogorsk (nas proximidades de Moscou), rompeu com procedimentos estabelecidos pelos grupos radicais muçulmanos desde o final da década de 1990. Reivindicada pelo Estado Islâmico, causa perplexidade por uma série de inovações. A primeira delas é que as organizações sempre se utilizaram de voluntários suicidas e, desta vez, os autores foram contratados, tentaram fugir e receberam pagamento para realizar o ataque.

Este procedimento se assemelha ao modo operandi da Al-Qaeda, que ficou conhecida por financiar ações propostas por terceiros, como o ataque ao World Trade Center, em Nova York, e ao Pentágono, sede do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, em Washington. A grande diferença é que o dinheiro foi entregue aos organizadores a priori e não foi usado como uma espécie de recompensa. Os responsáveis pelas mortes em Krasnogorsk receberam metade do dinheiro prometido antes da ação. Receberiam o restante depois que atingissem um ponto seguro.

O presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, admitiu que o ataque foi realizado por radicais islâmicos, mas não descartou a possibilidade de um conluio com as autoridades ucranianas. Onze radicais envolvidos na ação foram capturados, incluindo os quatro atiradores, mas a inteligência ainda não sabe quem ordenou o atentado. Todos eram cidadãos do Tajiquistão, possuíam treinamento militar e a execução da ação mostrou um planejamento sofisticado.

O processo de recrutamento ocorreu em um canal do Telegram e os pagamentos foram feitos por cartões de débito pré-pagos enviados pelo correio, outra inovação que não é típica do Estado Islâmico. Os criminosos foram capturados a pouco mais de 400 quilômetros de Belarus em uma rodovia que segue para a Ucrânia, apesar disto os Estados Unidos negaram envolvimento do governo ucraniano no atentado.

O último balanço do governo mostrou que ao menos 137 pessoas morreram. Cerca de 150 pessoas também ficaram feridas. Os quatro suspeitos tiveram a prisão preventiva decretada. Eles comparecerem em um tribunal de Moscou, na noite de domingo (24). Dalerdzhon Mirzoyev, Saidakrami Rachabalizoda, Shamidin Faridouni e Muhammad Fayzov são acusados de “terrorismo” e podem ser condenados à prisão perpétua, informou o Tribunal de Basmanny, de Moscou, em um comunicado. Três deles se declararam culpados. O Tajiquistão é uma ex-república soviética de maioria muçulmana na Ásia Central.

Além de terroristas disparando indiscriminadamente, também foram relatadas explosões, que deixaram o prédio em chamas. O telhado da casa de espetáculos desabou e parte da casa de shows ficou destruída. Foi o ataque mais mortal em território russo desde o cerco à escola de Beslan em 2004, quando militantes islâmicos tomaram como refém mais de 1.000 pessoas, incluindo centenas de crianças. Mais de 330 pessoas morreram.

Reiterando, dois pontos causam estranheza: o fato de mercenários serem contratados pelo ataque e o fato de não terem cometido suicídio, o que rompe paradigmas do Estado Islâmico e da Al-Qaeda. A partir disto, surge uma perspectiva assustadora com a possibilidade de países usarem organizações radicais para cumprirem uma agenda terrorista em nível global. Pretendo acompanhar os desdobramentos do caso para uma análise mais profunda no futuro.

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